Obama veio ao Porto falar sobre o ambiente. Aliás, sobre os ambientes; porque a conversa não ficou apenas pelas alterações climáticas: o ambiente político também foi assunto, mas sobressaiu uma consideração sobre os jovens.
Disse Obama que foram os jovens que lhe garantiram a sua eleição e que foi com eles que trabalhou, colocando-os em lugares de decisão política. Disse saber que nós, as novas gerações, temos uma visão para o mundo e que para nos mobilizar basta dizer: “vão em frente”. Disse ainda que, sempre que queremos, sabemos ser melhores do que o establishment político; e essa é de facto a verdade: sabêmo-lo!
Obama nasceu em 1961, numa década de grandes transformações sociais em que os jovens imprimiam a mudança que queriam no mundo. Conquistaram lugares de decisão contra regimes autoritários que os queriam formatados em vez de formados e educados; que os enviavam para guerras em vez de promoverem a tolerância e a paz; que conseguiram criar um clima de pressão social em que todos sabiam como destruir o mundo com um primir de um botão.
Essa geração tem hoje 50 e 60 anos e parece não se lembrar de nada. Insistem alguns no armamento militar, insistem outros em nacionalismos bacocos e todas essas lideranças mundiais nos preocupam. Mas não podemos olhar para isso e ficar preocupados porque não chegou até nós. Devemos olhar para as lideranças intermédias da nossa sociedade e perguntar onde estão os jovens dessa época.
Onde estão se, 50 ou 60 anos depois, chegados ao poder, retiraram os estudantes da gestão democrática das instituições de ensino superior, sem assento nos conselhos diretivos e residuais nos conselhos gerais?
Onde estão se, 50 ou 60 anos depois, ocupam os cargos de decisão construindo barreiras invisíveis por cima dos outros, blindando as suas posições?
Onde estão se, 50 ou 60 anos depois, ainda ocupam os mesmos lugares que exigiam para os jovens quando eles próprios eram jovens?
Onde estão se, 50 ou 60 anos depois, vêem as oportunidades para jovens como um favor que lhes fazem, ao invés de as exigirem como direitos como quando era com eles?
Onde estão essas pessoas que reformaram o sistema anterior, criando-o como ele é hoje e que vivem felizes com algo que claramente não é para quem chega de novo, para quem ingressa, para quem quer começar a fazer parte… que vivem felizes mantendo os sistemas formatados e orientados para quem já neles tem o seu lugar cativo: no trabalho, na universidade, nas empresas, na segurança social, na função pública, na política…
Onde estão? E não se lembram?
Ou só Obama se lembra?