No passado dia 12 de outubro o Sr. SNS, 40 anos, até à data aparentemente saudável, deu entrada no consultório do Dr. The Lancet.
Perante os sintomas que apresentava: “desinvestimento”, “não ser uma prioridade”, “não ir ao encontro às necessidades da população” e “trabalhadores desmotivados”, este reputado clínico rapidamente estabeleceu o diagnóstico – o SNS está a reverter o progresso nos indicadores de saúde que arduamente atingiu durante a sua existência.
Na verdade, esta consulta tinha como objetivo uma segunda opinião já que vários outros entendidos haviam anteriormente alertado para este cenário.
Enquanto ouvimos decisores políticos repetirem que continuamos a ter um dos melhores serviços de saúde do mundo, é difícil não parar para pensar a que é que isso se deve.
Profissionais de saúde explorados e doentes muito pacientes parece ser a resposta mais óbvia.
E sim, é verdade, não nos podemos queixar do que temos porque em muitos outros países o cenário ainda é pior… mas, é com os piores que queremos comparar a nossa capacidade de garantir a saúde dos portugueses?!
O SNS rege-se, de acordo com a Constituição da República Portuguesa e da Lei de Bases da Saúde, pelos seguintes princípios:
• universal, ou seja, não fecha a porta a ninguém. No entanto, é capaz de, imediatamente a seguir, deixar muitos numa sala de espera que mede anos;
• geral, ou seja, assegura os cuidados de saúde necessários à população. Ainda assim, para conseguir uma consulta de especialidade em tempo clinicamente aceitável, há muito quem tenha de recorrer ao setor privado;
• qualidade, requerida a profissionais de saúde em burnout e com recurso a equipamentos obsoletos;
• tendencialmente gratuito. Contudo, as despesas de saúde a cargo do doente estão a aumentar e são bem mais elevadas que no resto da Europa.
A consulta termina com a definição do prognóstico. Em suma, é mau. Se tivermos em conta as mudanças sociodemográficas previstas para os anos vindouros torna-se ainda pior.
É urgente iniciar tratamento.
Download do artigo aqui.